quarta-feira, 22 de abril de 2009

Manual da Nova Ortografia

Um novo jeito de escrever

POR MARIANA SGARIONI

"A adopção de uma única ortografia entre países de língua portuguesa pode ser óptima.” Se este texto fosse escrito em Portugal, a frase anterior estaria corretíssima. Já no Brasil, a letra p (nas palavras adopção e óptima) está sobrando e parece um erro de digitação – apesar de todos sabermos que se trata do mesmo idioma. Do ponto de vista da ortografia, existem diferenças bastante relevantes na língua portuguesa. E não apenas entre os dois países. Nas outras seis nações que falam e escrevem o português (Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) ocorre o mesmo.
Para acabar com essas diferenças, foi criado, em 1990, um acordo ortográfico – que deve vigorar no Brasil a partir do ano que vem (saiba mais sobre os próximos passos da implementação do acordo no quadro da página 7). “A existência de duas grafias oficiais acarreta problemas na redação de documentos em tratados internacionais e na publicação de obras de interesse público”, defendia o filólogo Antônio Houaiss, o principal responsável pelo processo de unificação aqui no Brasil.
Originalmente, o combinado era que todos os membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) deveriam ratificar o acordo para que ele tivesse valor. Em 2004, porém, os chefes de Estado da CPLP decidiram que bastava a aprovação de três nações para a reforma ortográfica entrar em vigor. O Brasil, no entanto, definiu que mudaria o jeito de escrever somente se Portugal também o fizesse (e o “sim” de Lisboa às novas normas só veio no ano passado). É importante ressaltar que a pronúncia, o vocabulário e a sintaxe permanecem exatamente como estão. A novidade é a unificação da grafia de algumas palavras.


Acento agudo

O acento agudo desaparece das palavras da língua portuguesa em três casos, como se pode ver a seguir: • nos ditongos (encontro de duas vogais proferidas em uma só sílaba) abertos ei e oi das palavras paroxítona. (aquelas cuja sílaba pronunciada com mais intensidade é a penúltima).

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
assembléia - assembleia
heróico - heroico
idéia - ideia
jibóia - jiboia

NO ENTANTO, as oxítonas (palavras com acento na última sílaba) e os monossílabos tônicos terminados em éi, éu e ói continuam com o acento (no singular e/ou no plural). Exemplos: herói(s), ilhéu(s), chapéu(s), anéis, dói, céu.
• nas palavras paroxítonas com i e u tônicos que formam hiato (seqüência de duas vogais que pertencem a sílabas diferentes) com a vogal anterior quando esta faz parte de um ditongo;

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
baiúca - baiuca
boiúna - boiuna
feiúra - feiura

NO ENTANTO,
as letras i e u continuam a ser acentuadas se formarem hiato mas estiverem sozinhas na sílaba ou seguidas de s. Exemplos: baú, baús, saída. No caso das palavras oxítonas, nas mesmas condições descritas no item anterior, o acento permanece. Exemplos: tuiuiú, Piauí.
• nas formas verbais que têm o acento tônico na raiz, com o u tônico precedido das letras g ou q e seguido de e ou i. Esses casos são pouco freqüentes na língua portuguesa: apenas nas formas verbais de argüir e redargüir.

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
argúis - arguis
argúem - arguem
redargúis - redarguis
redargúem - redarguem

Acento diferencial

O acento diferencial é utilizado para permitir a identificação mais fácil de palavras homófonas, ou seja, que têm a mesma pronúncia. Atualmente, usamos o acento diferencial – agudo ou circunflexo – em vocábulos como pára (forma verbal), a fim de não confundir com para (a preposição), entre vários outros exemplos. • Com a entrada em vigor do acordo, o acento diferencial não será mais usado nesse caso e também nos que estão a seguir: • péla (do verbo pelar) e pela (a união da preposição com o artigo); • pólo (o substantivo) e polo (a união antiga e popular de por e lo); • pélo (do verbo pelar) e pêlo (o substantivo); • pêra (o substantivo) e péra (o substantivo arcaico que significa pedra), em oposição a pera (a preposição arcaica que significa para).
NO ENTANTO, duas palavras obrigatoriamente continuarão recebendo o acento diferencial: • pôr (verbo) mantém o circunflexo para que não seja confundido com a preposição por; • pôde (o verbo conjugado no passado) também mantém o circunflexo para que não haja confusão com pode (o mesmo verbo conjugado no presente). Observação: já em fôrma/forma, o acento é facultativo.

Acento circunflexo

Com o acordo ortográfico, o acento circunflexo não será mais usado nas palavras terminadas em oo.

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
enjôo - enjoo
vôo - voo
abençôo - abençoo
corôo - coroo
magôo - magoo
perdôo - perdoo

Da mesma forma, deixa de ser usado o circunflexo na conjugação da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler, ver e seus derivados.

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
crêem - creem
dêem - deem
lêem - leem
vêem - veem
descrêem - descreem
relêem - releem
revêem - reveem

NO ENTANTO, nada muda na acentuação dos verbos ter, vir e seus derivados. Eles continuam com o acento circunflexo no plural (eles têm, eles vêm) e, no caso dos derivados, com o acento agudo nas formas que possuem mais de uma sílaba no singular (ele detém, ele intervém).


Trema
Um sinal a menos

O trema, sinal gráfico de dois pontos usado em cima do u para indicar que essa letra, nos grupos que, qui, gue e gui, é pronunciada, será abolido. É simples assim: ele deixa de existir na língua portuguesa. Vale lembrar, porém, que a pronúncia continua a mesma.

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
agüentar - aguentar
eloqüente - eloquente
freqüente - frequente
lingüiça - linguiça
sagüi - sagui
seqüestro - sequestro
tranqüilo - tranquilo
anhangüera - anhanguera

NO ENTANTO, o acordo prevê que o trema seja mantido em nomes próprios de origem estrangeira, bem como em seus derivados. Exemplos: Bündchen, Müller, mülleriano.


Hífen
Palavras compostas

O hífen deixa de ser empregado nas seguintes situações: • quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes s ou r. Nesse caso, a consoante obrigatoriamente passa a ser duplicada; • quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com uma vogal diferente.

COMO É HOJE e COMO VAI FICAR
anti-religioso - antirreligioso
anti-semita - antissemita
auto-aprendizagem - autoaprendizagem
auto-estrada - autoestrada
contra-regra - contrarregra
contra-senha - contrassenha
extra-escolar - extraescolar
extra-regulamentação - extrarregulamentação

NO ENTANTO, o hífen permanece quando o prefixo termina com r (hiper, inter e super) e a primeira letra do segundo elemento também é r. Exemplos: hiper-requintado, super-resistente.


A partir de 2010 os alunos de 1º a 5º ano do Ensino Fundamental receberão os livros dentro da nova norma – o que deve ocorrer com as turmas de 6º a 9º ano e de Ensino Médio, respectivamente, em 2011 e 2012.


Quer saber mais?
Portal da Língua Portuguesa O site do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal traz o acordo oficial, assinado pela Comunidade dos Países da Língua Portuguesa, na íntegra. Contém ainda acordos anteriores, como o de 1945, e um histórico das reformas ortográficas do português.
Wikipedia A página da enciclopédia livre Wikipedia é bem completa. Traz detalhes das mudanças, histórico, negociações entre os governos e a situação em Portugal, além de diversos links de referências.
Jornal Público Link elaborado pelo jornal português Público que traz algumas das principais perguntas e respostas sobre o acordo.
Academia Brasileira de Letras No site da Academia Brasileira de Letras há textos sobre a aprovação do texto e um link para você enviar dúvidas sobre os pontos obscuros do acordo. Comissão de Língua Portuguesa Página oficial da Comissão de Língua Portuguesa (Colip), do Ministério da Educação, órgão responsável pela implantação do acordo no Brasil.

http://www.novaescola.org.br/

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