segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Interpretação do martírio de Irmã Lindalva

Essa história começa em 1993 no tradicional bairro da Boa Viagem, cidade de Salvador (BA), quando um bárbaro assassinato comoveu a população baiana.
Devido a uma recomendação, o abrigo acolheu entre os anciãos Augusto da Silva Peixoto, homem de 46 anos. Ele passou a assediar Ir. Lindalva, e chegou até mesmo a manifestar-lhe suas intenções. Ela começou a ter medo, e procurou afastar-se o mais que pode. Confidenciou-se com outras irmãs e refugiava-se na oração. Seu amor aos velhinhos a mantiveram no abrigo, e chegou a dizer a uma irmã: “prefiro que meu sangue seja derramado do que afastar-me daqui”.
Segundo a enfermeira Lígia da Ressurreição, que trabalhava com a freira pouco antes do crime, Lindalva teria respondido a uma das provocações de Augusto. “Eu entreguei meu amor a outro homem”, teria dito ela ao pretendente. Ciumento, Augusto cismou que ela tinha realmente se apaixonado por um homem de carne e osso. Ledo engano. “Não sabia ele que o outro homem a quem ela se referia era Jesus”, diz Lígia. “Ele achou que a paixão de irmã Lindalva era um interno chamado Coração”, conta a enfermeira. Coração era um ancião que tinha esse apelido por ser cardíaco. “A freira tinha uma atenção muito especial por esse doente e isso despertou a ira de Augusto”, conta Cleber, outro enfermeiro da época de Lindalva. Foi a partir daí que Augusto começou a pensar no crime. “Foi tudo premeditado”, acusa Lígia.

Por não ser correspondido, Augusto foi à Feira de São Joaquim na Segunda-feira Santa e comprou uma peixeira, que amolou ao chegar no abrigo. Não dormiu na noite de quinta para sexta-feira santa. De manhã, Irmã Lindalva havia participado da Via-Sacra, ao raiar da aurora, na paróquia da Boa Viagem. Ao regressar, foi servir o café da manhã aos idosos. Subiu as escadarias da enfermaria, como se estivesse subindo para o calvário, e pôs-se a servir pão com café e leite para os internos da ala masculina.
Todos eles estavam em fila, esperando a vez. A irmã, compenetrada com o café, tinha a cabeça baixa quando sentiu um toque no ombro: virou-se e teve tempo apenas de ver o rosto enraivecido do homem que conhecera havia poucos meses... Em seguida, foram dezenas de facadas, pontilhadas por todo o corpo. Tudo diante do semblante horrorizado dos velhinhos que assistiam à cena bem em frente à mesa de café.
Um senhor ainda tentou evitar a tragédia, avançando sobre o assassino. Mas Augusto Peixoto estava decidido e, ameaçou de morte quem ousasse se aproximar. Terminado o crime, foi esperar a polícia sentado em um banco na frente da casa.
Os médicos legistas contaram no corpo de Ir. Lindalva 44 perfurações. Naquela sexta-feira santa, enquanto Cristo morria na cruz, ela morria na sua enfermaria. Cristo levou 39 açoites, e com as 5 chagas, dos pés, mãos e costado, ao todo 44, unia simbolicamente a morte de Lindalva à sua paixão, que um pouco antes ela acabara de celebrar na Via-Sacra.
À noite, a procissão do Senhor Morto, que todos os anos passava por aqueles quarteirões, parou na Capela do abrigo. O caixão com corpo de Ir. Lindalva foi trazido e colocado entre o féretro do Senhor Morto e a estátua de Nossa Senhora das Dores.
Por toda aquela noite ali compareceu uma multidão de fiéis, padres, religiosos, pessoas de todas as condições sociais, e até mesmo evangélicos, vindos de toda a cidade. Pela manhã do Sábado Santo Dom Lucas Moreira Neves, então Cardeal Primaz de Salvador, celebrou as exéquias. Na missa do domingo in albis ele comentou que poucos anos de vida religiosa foram suficientes para que ela recebesse a graça do martírio, pois deu a sua vida por amor.
O processo de beatificação de irmã Lindalva foi um dos mais rápidos entre os beatos brasileiros. Ele foi iniciado em 17 de janeiro de 2000 e em 3 de março de 2001 – um ano e três meses depois – já estava sendo concluído. Como ela foi considerada mártir da Igreja Católica, a comprovação de milagres para se tornar beata não foi necessária. Para torná-la santa será preciso confirmar um milagre.
A encenação foi feita na câmara dos vereadores de Natal, em Solenidade promovida pelo gabinete do vereador professor Luís Carlos. Familiares da Irmã Lindalva estiveram presentes, além de várias figuras políticas, junto com outros populares que conheciam e se sensibilizaram com o martírio da Irmã Lindalva.

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